A MISSÃO DA ARTE (trechos)
Mokiti Okada
Todas as coisas criadas por Deus visam o bem da humanidade. Exercem, por isso, uma missão celestial. Naturalmente, a arte não constitui exceção. Daí que o artista deveria tomar consciência de seu papel e desempenhá-lo com perfeição, contribuindo, dessa forma, para o estabelecimento de uma sociedade justa.
Não é, porém, o que acontece. Fico atônito ao observar a atitude dos artistas em geral. Há, é certo, muitos entre eles que são bons; No entanto, a maioria se esquece de sua verdadeira missão, ou não leva em conta esse fator. Considerando-se criaturas especiais, julgam que a vivência de sua sensibilidade seja expressão do individualismo, ou da genialidade. Assim pensando, agem como bem entendem, sem o menor discernimento. A sociedade, por sua vez, os trata como seres especiais e tolera neles quase tudo, o que os torna cada vez mais vaidosos. Esse comportamento social os impedem de terem as mais elevadas qualidades espirituais, o que deveria ser uma característica normal da personalidade do VERDADEIRO ARTISTA.
Observem que, desde os primórdios, o homem vem modificando a sua maneira de viver e, passo a passo, está chegando a um mundo mais civilizado. Nesse sentido, o progresso representa a eliminação da bestialidade dos tempos bárbaros - marca obsessiva do comportamento humano. Essa brutalidade sem limites é, inclusive, uma das causas que mantém a humanidade exposta a ameaças incessantes de guerras.
Nesse contexto, o artista tem uma importante missão a cumprir. A sua arte deve ser incentivo à eliminação da bestialidade humana, bem como um recurso pelo qual todos possam conquistar sentimentos mais nobres. Assim então, a literatura, o teatro, o canto, a dança, a pintura deverão ser o caminho pelo qual os valores espirituais do artista, expressos através de sua sensibilidade, tocarão a alma do povo, estabelecendo-se entre ambos, um elo de sentimentos e emoções altamente elevados.
Cabe pois ao artista, o papel de orientador do verdadeiro comportamento a ser seguido pelos demais membros da sociedade. Daí se conclui que, se a sua vida espiritual não for muito aprimorada, também os sentimentos do povo não poderão se tornar melhores. É neste ponto que reside a dignidade da arte, ou a sua vulgaridade.